Criador de um Estado 'ateu', Fidel Castro ironiza a Igreja: 'O que faz um papa?'
Enquanto aguardava o papa, Fidel disse ter grande admiração pela madre Teresa de Calcutá e por João Paulo II, cuja visita há 14 anos foi um divisor de águas nas relações entre Igreja e Estado
O papa Bento 16 e o líder revolucionário Fidel Castro, ambos octogenários, fizeram piada com a idade durante uma rápida reunião na quarta-feira, e então Fidel lançou a pergunta: afinal, o que você faz?
As duas personalidades conversaram por cerca de 30 minutos na Nunciatura Apostólica (embaixada do Vaticano) em Havana, pouco antes de Bento 16 encerrar sua visita de três dias à ilha comunista, na qual defendeu mais liberdades e um maior papel para a Igreja Católica.
Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse que o papa, de 84 anos, e Fidel, de 85, tiveram uma "troca de ideias" numa atmosfera "muito cordial", apesar das profundas divergências ideológicas que os separam.
Durante seu governo (1959-2008), Fidel transformou Cuba em um Estado comunista e oficialmente ateu, embora nas últimas duas décadas as relações entre Igreja e regime tenham melhorado.
Fidel chegou para a reunião num comboio de veículos da marca Mercedes, sob forte esquema de segurança. Foi amparado por dois auxiliares que o ajudaram a subir lentamente a escadaria do casarão, onde Bento 16 pernoitou de terça para quarta-feira, e onde seu antecessor, João Paulo 2o, se hospedou na histórica visita a Cuba em 1998.
"O que faz um papa?", perguntou Fidel a Bento 16. O pontífice então falou do seu ministério, das suas viagens internacionais e do seu serviço à Igreja. Disse também que estava feliz por visitar Cuba e por ter sido tão bem acolhido.
Usando agasalho esportivo Reebok e um cachecol, apesar do forte calor em Havana, Fidel disse ao papa que assistiu a todos os eventos da visita pela TV. Dois filhos dele também foram apresentados a Bento 16.
Fidel, que atualmente se dedica a receber dignitários estrangeiros e escrever artigos opinativos na imprensa local, perguntou ao papa sobre mudanças na liturgia católica, e pediu o envio de um livro que o auxilie em suas reflexões. Lombardi disse que o papa pensaria em uma obra apropriada para remeter.
Ainda segundo o porta-voz, a dupla discutiu problemas mundiais sob pontos de vista religiosos, científicos e culturais. E Bento 16 falou a Fidel sobre o problema da ausência de Deus em grande parte da sociedade atual, e sobre a relação entre fé e razão.
Enquanto aguardava o papa, Fidel disse ter grande admiração pela madre Teresa de Calcutá e por João Paulo II, cuja visita há 14 anos foi um divisor de águas nas relações entre Igreja e Estado.
Antes da visita de João Paulo II, Fidel reabilitou o Natal como feriado nacional em Cuba. Na terça-feira, em reunião com o presidente Raúl Castro - irmão caçula de Fidel -, o papa pediu que a Sexta-Feira Santa também passe a ser considerada feriado na ilha.
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