O dia em que um curso de sexo oral me fez lembrar de uma pregação numa igreja presbiteriana.
Link para os interessados aqui
OK, sem muita enrolação vamos direto ao ponto (perdão pelo trocadilho)
O sexo é, como dito muitas vezes por aqui, um grande tabu no meio evangélico e isso é inegável. Qualquer questão que envolva a moralidade sexual é tratada com camadas e camadas de cuidados para evitar qualquer “aparência do mal”. Questões como traição conjugal, gravides fora do casamento, ou homossexualidade (todos considerados pecados pela maioria dos grupos protestantes no Brasil) tem um tratamento diferenciado de outros problemas, que na minha opinião, são muito mais graves, como o egoísmo ou hedonismo, contudo, não é para criar uma hierarquia de pecados que escrevo este texto.
A algum tempo atrás fui convidado para pregar numa igreja presbiteriana, durante um congresso de missões, e o tema que me foi proposto era a COMUNICAÇÃO, acredito que motivados pelo trabalho a net que tenho a algum tempo. Saibam, não quis, de maneira nenhuma frustrar as expectativas dos meus anfitriões, contudo, foi exatamente o que aconteceu.
Bolei uma dinâmica, e para tal, convidei meu amigo Pepe, para atuar comigo.
Ele entraria antes de mim, caracterizado como um pastor pentecostal, como se fosse o preletor da noite, e em meio a manifestações de glossolalias e “gloriadeuzaleluais” ele subiria no púlpito, sapateando e rodopiando (recordando ao amigo leitos, estávamos numa igreja presbiteriana) e com discurso pentecostal, ele abriria a bíblia, pendido para que todos os presentes no auditório o acompanhassem, no capítulo 3, versos 3–5 do Livro do profeta Miquéas, o qual diz:
Porventura não acontecerá naquele dia, diz o Senhor, que farei perecer os sábios de Edom, e o entendimento do monte de Esaú?E os teus poderosos, ó Temã, estarão atemorizados, para que do monte de Esaú seja cada um exterminado pela matança.Por causa da violência feita a teu irmão Jacó, cobrir-te-á a confusão, e serás exterminado para sempre.
Tudo certo, ele começou a pregar sobre um tema qualquer, sem nenhuma conexão com o que foi lido, até que sem mais nem menos ele parou a pregação e eu subi no púlpito para fazer uma pergunta.
“Alguém aqui percebeu que o texto que o Pepe pediu pra ser aberto e o texto que ele leu, não são o mesmo? (Vai lá, na sua bíblia, pode conferir)”
Algumas mãos tímidas apareceram aqui e ali
“Por que não indicaram ao pregador que o texto estava equivocado?”
Silêncio…
“Ora, se um desconhecido, e completamente fora do contexto da realidade da igreja de vcs aparece aqui no púlpito, e fala qualquer coisa, qualquer bobagem, quando subir aqui um pastor que vcs amam e respeitam, se esse pastor falar qualquer bobagem, vcs irão aceitar, não é mesmo”
Claro que eu não acho que nenhum dos ordeiros garotos da igreja presbiteriana iria interromper a pregação para dar de dedo na cara do pastor ou qualquer assim, contudo, por mais simbólico que isso possa parecer, trata-se de um alerta, assim como o curso citado no inicio do texto também.
“Mas qual a relação que que uma dinâmica na igreja presbiteriana e um curso de sexo oral tem e onde você quer chegar com isso, barba?”
Bem… Alem é claro de saber que a palavra SEXO no título deste gerar muitos cliques, há também outro ponto que eu gostaria de explorar (novamente, perdão pelo trocadilho).
Vivemos, segundo alguns, na era da comunicação, no momento do mundo onde pouco a pouco perde suas fronteiras através das tecnologias de comunicação cada vez mais avançadas e ao mesmo tempo, vemos a crise de uma nação de refugiados encurralados entre a guerra em seus países natis e os muros da Europa. Mas convenhamos, receber esse oceano de gente assim, de uma hora pra outra (?!) pode ser traumático para os países Europeus, sei lá, pode ser como quando os europeus vieram pra America no contexto da segunda guerra, né… Bem, isso também é outro assim.
Um país não consegue se comunicar com outro, e até é compreensível, os membros de uma igreja, não conseguem se comunicar com os lideres, isso é assustador… Um homem (imagino que o curso não seja apenas para homens, mas permita-me essa redução) não consegue se comunicar com sua companheira durante o ato sexual, isso é a falência completa de um relacionamento.
Como é possível que um homem precise frequentar um curso, que custa dinheiros e tempo, para resolver um problema que poderia ser resolvido com um simples diálogo? “Você gosta assim ou prefere de outro jeito?”, “Você gosta disso ou quer que eu pare?”, “O que é que você gosta?”, mas não… é melhor fazer um curso… Simplesmente, não faz sentido.
Quando vamos perceber que muitos conflitos que vivemos nas nossas vidas particulares não são uma catástrofe metafisica ou obra de demônios que querem acabar com a nossa vida, mas simplesmente a nossa falta de capacidade de dialogar? Quantos amigos ainda teremos que bloquear no Facebook, pq não gostamos do posicionamento politico dele, ou do candidato que ele apoiou na ultima eleição? Quantas vezes ainda teremos que fingir sorrisos amarelos enquanto ouvimos a historia de alguém, ansiosos para interromper e comunicar ao interlocutor uma historia que é ainda mais interessante do que essa a qual nem conhecemos o final? Quando vamos voltar a dialogar despretensiosamente com nossos pastores (se é que algum dia você já pode fazer isso) e abrir pra ele, duvidas que temos sobre questões bíblicas ou outros assuntos? quando voltaremos a dialogar com nossas esposas ou esposos, sobre qual é a melhor maneira de fazer sexo?
Este texto não é sobre sexo ou sobre cultos de jovens da igreja presbiteriana, este texto é sobre se comunicar, sobre pedir a opinião do outro com a real intensão se mudar de atitude diante dessa opinião caso seja necessário, sem que precisemos fazer cursos para aprender o mais elementar, “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.”
fonte:https://crentassos.com.br/blog/
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