Gafanhotos atacam Israel e provocam dúvidas rituais.
A matéria foi publicada na Folha de S. Paulo de 09/03/13:
Praga de gafanhotos chega a Israel, e país debate se podem ser comidos
DIOGO BERCITO
Milhões de gafanhotos pousaram no início desta semana no sul de Israel, trazidos por vento soprado do vizinho Egito.
Eles foram recebidos por agricultores e pelo governo como a praga bíblica que, faminta e descontrolada, devora e destrói as plantações.
Mas os próprios insetos foram devorados por quem, morando no território desértico do Neguev, viu neles a chance de um lanchinho.
As notícias de que gafanhotos estavam servindo de aperitivo à população, porém, preocuparam autoridades rabínicas, que se voltaram aos textos sagrados do judaísmo para responder à pergunta recém-surgida: comer esse inseto é "kosher"?
O termo se refere aos alimentos que são vistos como adequados para o consumo de acordo com as leis do judaísmo. Por exemplo, carne de porco não é "kosher".
A questão é uma controvérsia antiga no judaísmo, com tratados medievais discutindo a adequação ou não da ingestão de gafanhotos.
Isso porque o texto de Levítico (livro da Bíblia), que legisla sobre a questão, cita quatro tipos desse artrópode que podem ser comidos. Mas não há consenso sobre a quais espécies o texto se refere, dando início ao debate.
Na quarta-feira, um importante rabino afirmou que, na dúvida, é melhor não comer nenhum, já que não é possível ter certeza de que os gafanhotos do Neguev estão entre os aceitos.
"Nós não estamos familiares com seus nomes e não temos uma tradição clara a respeito deles", afirmou o rabino Yitzhak Yosef, citado pelo jornal local "Haaretz".
O biólogo Ari Zivotofsky, especializado em alimentação religiosa, examinou alguns dos gafanhotos recém-chegados e afirmou à Folha acreditar que eles sejam "kosher" - esses são, diz, aqueles descritos no texto pelo nome "chagav", incluídos na lista dos permitidos.
A discussão, afirma o biólogo, é uma tentativa de determinar o que é tradicional ou não para os judeus, uma das bases da lei religiosa.
O centro da questão é que certos grupos de judeus, como os vindos da Alemanha, passaram séculos sem nunca ter precisado pensar sobre gafanhotos, já que ali os enxames não são comuns.
Os judeus iemenitas, por sua vez, mantiveram a tradição de devorar os insetos.
"Agora há alemães e iemenitas vivendo lado a lado em Israel, e então surge a questão", diz Zivotofsky.
Em 2005, quando o último enxame chegou a Israel, diversos grupos consideraram permitido comer gafanhotos, e há disponíveis na internet receitas para o preparo do inseto,c omum em outros países, como a Tailândia.
fonte;
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